Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP),
José Manuel Moran é assessor da Faculdade Sumaré, em São Paulo e professor
aposentado da USP.
Nascido na Espanha e naturalizado brasileiro, Moran é um
estudioso das formas de integração entre as tecnologias de comunicação,
especialmente a internet, na educação presencial e a distância, dentro de uma
visão humanista e inovadora.
Tem vários artigos e livros publicados sobre comunicação
pessoal, educação e tecnologias, onde procura integrar a visão humanista com a
inovação tecnológica. Como ver televisão (1991) e Novas Tecnologias e Mediação
Pedagógica (2000) são algumas de suas obras.
Nas décadas de 70 e 80 participou do Projeto Leitura
Crítica da Comunicação, da União Cristã Brasileira de Comunicação Social
(UCBC), que orientava pais e professores não só a analisar os meios de
comunicação, principalmente a televisão e o jornal, como também a integrá-los
como tecnologias e mídias na educação.
Jornal do
Professor - De que maneira os vídeos podem
facilitar o processo de ensino e aprendizagem?
José Manuel Moran - As linguagens da TV e do vídeo respondem à sensibilidade
dos jovens e da grande maioria da população adulta. São dinâmicas, dirigem-se
antes à afetividade do que à razão. As crianças e os jovens lêem o que pode
visualizar, precisam ver para compreender. Toda a sua fala é mais
sensorial-visual do que racional e abstrata. Lêem nas diversas telas que
utilizam: da TV, do DVD, do celular, do computador, dos games.
Os vídeos facilitam a motivação, o interesse por assuntos
novos. Os vídeos são dinâmicos, contam histórias, mostram e impactam. Facilitam
o caminho para níveis de compreensão mais complexos, mais abstratos, com menos
apoio sensorial como os textos filosóficos, os textos reflexivos.
Os vídeos também são um grande instrumento de comunicação e
de produção. Os alunos podem criar facilmente vídeos a partir do celular, do
computador, das câmaras digitais e divulgá-los imediatamente em blogs, páginas
web, portais de vídeos como o YouTube.
Os computadores e celulares deixaram de ser apenas
ferramentas de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar
fotos ou fazer vídeos com um celular e publicá-los na internet. Professores e
alunos podem ter acesso a inúmeros vídeos prontos e assisti-los no momento ou
salvá-los para exibição posterior. Ao mesmo tempo, todos podem editar, produzir
e divulgar novos conteúdos a partir do computador ou do celular. Entramos numa
nova era da mobilidade e da integração das tecnologias, como nunca antes foi
possível.
JP - Como os vídeos podem ser utilizados em sala de aula?
JMM - Os vídeos podem ser utilizados em todas as etapas do
processo de ensino e aprendizagem. Os principais usos são:
Para motivar, sensibilizar os alunos – É, do meu ponto de
vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para
introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação para
novos temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o
assunto do vídeo e da matéria.
Para ilustrar, contar, mostrar, tornar próximos temas
complicados – O vídeo pode ajudar a tornar mais próximo um assunto difícil, a
ilustrar um tema abstrato, a visibilizar cenários de lugares, eventos,
distantes do cotidiano. Hoje, é muito mais fácil do que antes encontrar e
visualizar vídeos sobre qualquer assunto importante na internet, em portais
como o YouTube, por exemplo.
Como vídeo-aulas – Alguns vídeos trazem assuntos já
preparados para os alunos, já estão organizados como conteúdos didáticos.
Utilizam técnicas interessantes de manter o interesse, como dramatizações, depoimentos,
cenas de filmes, jogos, tempo para atividades. Podem ser adequados para que o
professor não tenha que explicar determinados assuntos. O professor age a
partir do vídeo, com questionamentos, problematização, discussão, elaboração de
síntese, formas de aplicação no dia-a-dia. Esses vídeos podem ser
disponibilizados no portal da escola e os alunos podem acessá-los fora da sala
de aula também.
Vídeo como produção individual ou coletiva – As crianças
adoram fazer vídeo e a escola precisa incentivar o máximo possível a produção
de pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma dimensão
moderna, lúdica. Moderna, como um meio contemporâneo, novo e que integra
linguagens. Lúdica, pela miniaturização das câmaras, que permite brincar com a
realidade, levá-las junto para qualquer lugar. Filmar é uma das experiências
mais envolventes tanto para as crianças como para os adultos. Os alunos podem
ser incentivados a produzir dentro de uma determinada matéria, ou dentro de um
trabalho interdisciplinar. E também produzir programas informativos, feitos por
eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis dentro da escola e em horários
onde muitas crianças possam assisti-los e também na página web da escola ou em
blogs ou portais da internet.
O vídeo também é importante para documentação, registro de
eventos, de aulas, de estudo do meio, de experiências, de entrevistas,
depoimentos. Isto facilita o trabalho do professor, dos alunos e da comunidade.
Esse material pode ser divulgado, quando conveniente, na internet.
O vídeo também pode ser útil para avaliação, principalmente
as que mostram situações complexas, estudos de caso, projetos, sozinho ou com
textos relacionados.
JP - Que tipo de atividade deve ser evitada quando se está
trabalhando com vídeos nas escolas? Que tipo de atividade é mais adequada?
JMM - Algumas formas inadequadas de utilização do vídeo:
Vídeo-tapa buraco: colocar vídeo quando há um problema
inesperado, como ausência do professor. Usar este expediente eventualmente pode
ser útil, mas se for feito com frequência, desvaloriza o uso do vídeo e o
associa - na cabeça do aluno - a não ter aula.
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com a
matéria. O aluno percebe que o vídeo é usado como forma de camuflar a aula.
Pode concordar na hora, mas percebe o mau uso.
Vídeo-deslumbramento: O professor que acaba de descobrir a
facilidades de baixar vídeos da Internet costuma empolgar-se e exibi-los em
todas as aulas, esquecendo outras dinâmicas mais pertinentes. O uso exagerado
do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas.
Vídeo-perfeição: Existem professores que questionam todos
os vídeos possíveis porque possuem erros de informação ou estéticos
(qualidade). Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser usados
para uma análise mais aprofundada a partir da sua descoberta,
problematizando-os.
Só exibição: não é satisfatório, didaticamente, exibir os
vídeos sem discuti-los, sem integrá-lo com os assuntos das aulas, sem rever
alguns momentos mais importantes.
Algumas atividades mais adequadas são: introduzir um
assunto, complementar informações; provocar discussões, trabalhos de grupo para
discussão, debates; levantamento de sugestões do grupo, estudo dirigido para
verificação da compreensão e da habilidade de transferir conhecimentos
recebidos para novas situações (projetos); alunos protagonistas, fazendo
trabalhos em vídeo, apresentando-os para a classe e divulgando-os na página web
da escola.
JP - Quais os benefícios que a produção de vídeos pode trazer
para os alunos?
JMM – Maior interesse dos alunos (linguagem familiar); aulas
mais atraentes, pois os vídeos estimulam a participação e as discussões; alunos
desenvolvem mais a criatividade, sua comunicação audiovisual e a interação com
outros colegas e outras escolas; melhor fixação dos assuntos principais pelos
alunos (visão mais concreta sobre eles), já que os vídeos trazem a realidade
para a sala de aula e para a aprendizagem significativa; complementação das
discussões do material impresso.
Mas nem tudo são benefícios. Os professores, apesar de
reconhecer muitas vantagens no uso do vídeo, utilizam-no realmente pouco. A
maior parte só trabalha com o vídeo na sala de aula esporadicamente, não
habitualmente. Há dificuldades materiais, e principalmente, dificuldades em ter
o material adequado para o programa da matéria. A maior parte dos professores
não conhece os vídeos que existem na sua área, quais são bons e, os poucos que
eles conhecem, nem sempre estão disponíveis, por razões econômicas. Percebe-se,
ainda, uma grande desinformação no uso do vídeo, não só tecnicamente, mas
principalmente didaticamente.
JP - Quais dicas o senhor daria para professores que nunca
trabalharam com produção de vídeos antes? O que deve ser observado mais
atentamente pelos professores?
JMM - Que observem e aprendam com seus alunos. Os mais novos
têm uma facilidade no manuseio de muitas telas (da TV, do celular, do
computador, dos videojogos, das câmaras digitais). É importante aprender com
eles e, ao mesmo tempo, fazer algum curso que inclua aspectos técnicos e
pedagógicos. Um dos esquemas básicos de organização da produção de um vídeo um
pouco mais complexo, costuma ter os seguintes passos:
Idéia: a idéia ou o tema principal que move a produção de
um vídeo; Elaboração do roteiro: momento em que a idéia toma forma propriamente
dita. Nesta etapa definem-se os personagens, os estilos de filmagem, e o que se
pretende, de fato, passar para o público com a obra;
Plano de filmagem: nesta parte acontece a elaboração de uma
planilha, onde são especificados todos os locais de filmagem, bem como suas
datas, horários, diálogos, personagens, figurino, cenário, tempo de cada cena,
etc.
Captura das imagens: filmagem propriamente dita;
Decupagem das imagens: nesta etapa, os alunos assistem ao
material gravado, selecionando o que é útil para a finalização da obra;
Pré-edição: as imagens são transferidas para o computador e
ordenadas em pastas e sub-pastas;
Edição: montagem das imagens no computador, aplicação de
efeitos, inserção de trilha sonora, de legendas ou frases de texto etc;
Finalização: gravação em mídia DVD, disponibilização em um
portal da escola ou em um portal de vídeos.
JP - É necessário ter uma ilha de edição de imagens? Quais os
equipamentos necessários para produzir um vídeo simples?
JMM - Para começar não é necessário um equipamento
sofisticado. Há programas de edição de imagens, alguns mais simples e baratos e
outros mais sofisticados e caros. O mais simples vem com o Windows XP ou Vista:
é o movie maker. Permite alterar o filme da forma que cada um quiser, com um
clique na opção linha do tempo. Hoje, algumas câmaras digitais já permitem
fazer edição de fotos ou vídeos nelas mesmas.
Tendo idéias e motivação facilmente se encontram as
soluções técnicas mais adequadas para cada situação. O professor pode pedir aos
alunos que encontrem as melhores soluções técnicas de edição.
Com as tecnologias digitais móveis, o avanço na conexão em
redes, a WEB 2.0 com tantos recursos gratuitos colaborativos, há inúmeras
soluções simples de acessar vídeos, de produzir vídeos, de editar vídeos e de
publicar vídeos.
(Renata Chamarelli e Fátima Schenini)
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